A lembrança nossa de cada dia, dia após dia

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Por: Paulo Maia

A Rainha Elizabeth, ao ser questionada se era para guilhotinar o amor de sua vida que havia lhe traído, foi taxativa: deixe-o vivo e sob os meus olhos para que eu possa me lembrar todos os dias que a traição e a covardia existem. Isso parece ter dado aos ingleses o hábito salutar da lembrança. Ela tem que estar viva. Sempre viva para que, através da experência adquirida, não se cometa os erros do passado.
Na coluna Panorama Político, do jornal O Globo, do dia 27, o colega Ilimar Franco afirma que a ex-guerrilheira(olha a lembrança viva) Dilma Roussef comenta sobre a memória do povo: ” Você lembra o que ocorreu com Jirau? Lembra como foi Santo Antônio? Hoje ninguém mais fala nada e as obras estão sendo tocadas”. Para quem é candidata a presidir um país, um posicionamento deste é no mínimo constrangedor.
Uma nação deve ser construída em seu dia a dia, buscando melhorar o futuro, levando para ele o melhor do presente e os acertos do passado. Os erros devem ficar na lembrança para que não sejam jamais repetidos. Mas pela declaração de Dilma, os erros são tão somente erros e devem ser praticados pois serão esquecidos.
Deve ter sido esta linha de raciocínio que o Grupo Bertin seguiu para ter arrematado do Governo, e com seu total apoio, a concessão para a construção da polêmica usina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. O grupo responde a processos em pelo menos quatro estados, no próprio Pará, Tocantins, São Paulo e Mato Grosso do Sul, depois que deixou um rastro de denúncias de crimes trabalistas e ambientais quando transferiu seus negócios para a JBS, sua ex-rival. Ética e moralidade? Para que ética e moralidade? Daqui a pouco ninguém mais fala nisso e a usina será construída, mesmo devastando o meio ambiente e aniquilando culturas. Meio ambiente e culturas? Para que servem? E o mais contraditório de tudo é o fator intransigência. Estão impondo um projeto que já nasceu falido há mais de vinte anos, mesmo tendo consciência de seu efeito devastador e sabendo que existem outras fontes alternativas de se gerar energia.
A candidata do atual governo parece que leva à risca o projeto de comandar o país em um mandato tampão de quatro anos e depois entregar o jogo para o atual presidente governar por mais oito. Esta roda viva de um país sem lembranças permite absurdos para que, até mesmo aqueles que nunca tiveram experiência para comandar sequer uma pequena comunidade metropolitana, se arvorem a governar a oitava potência mundial, mesmo mostrando que não possuem sensibilidade para enxergar que, neste momento, homens, mulheres, animais e meio ambiente serão aniquilados. Mas, o que imposta isso? Daqui a pouco ninguém mais se lembra…

PAULO MAIA É JORNALISTA, AMBIENTALISTA, DIRETOR PRESIDENTE DA ONG SOS AVES E CIA.

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