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Por: Administrador
Em um verão perdido no início da década de 90, estava em Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro e, de férias com minha família, fazia o circuito praia o dia todo e televisão a noite. Nesta época, a Rede Globo exibia, ás 22 hs, a série “Boca do lixo”, de Sílvio de Abreu e a trilha sonora era composta, em sua maioria, por música instrumental. Uma delas era “A farsa”. Em tom crescente e vibrante, a música marcava todo início de uma cena forte e, obviamente, remetia à farsa em que os personagens estavam envolvidos. Esta música era para “Boca do lixo” como a trilha dos filmes “Missão impossível”, “Tubarão” ou “Psicose”. Ela marca tanto quanto a cena e fica na cabeça. Tocou o primeiro acorde, a cena aparece viva.
Escrevi isso pelo simples fato de que quando vi uma manifestação da mestrada e doutorada Dilma Rouss… ( Ops, ela se equivocou ao informar no site que era mestre e doutora e, rapidamente, retirou essa “equivocada” informação assim que foi denunciada por jornalistas), adivinha que música marcou esta cena?! O mais incrível é que, a partir daí, toda vez que vejo a ministra chefe da Casa Civil Dilma Rousseff em cena, sempre com seu jeito autoritário e arrogante e sua expressão presunçosa e agressiva (olha aqui, minha filha!!!), jeito e expressão estes “nunca vistos antes na história deste país”, a tal da música marca. E marca forte.
No último dia 13, em mais uma reunião festiva em São Paulo, finalmente saiu o documento de intenção que o Brasil irá levar para a COP 15, em Dezembro, em Copenhague, na Dinamarca, encontro este promovido pela ONU para discutir a questão climática em que as nações se comprometem a não desmatar demais, não poluir demais, não degradar demais. A ministra chefe da Casa Civil anunciou… (Olha a música marcando) que o Brasil não irá levar compromisso algum e, sim, metas, mas não detalhou quais são estas metas. O que na verdade será criado, traduzindo em miúdos, é um compromisso voluntário (Olha a música marcando de novo).
Como não ter metas claras??? Se somos convidados para um casamento, temos que levar um presente como representação da nossa maior intenção de que este casamento dê certo, caso contrário ficaremos marcados para o resto da vida como um grande penetra de festa alheia que só quis se locupletar. Se vamos como convidados a um encontro de intenção que irá gerar um protocolo de comprometimento, temos que levar nossas reais intenções para que possamos entrar para a história como um grande convidado, caso contrário ficaremos marcados como os maiores “picaretas” do mundo. Seria como colocar na prática um pensamento popular que ouvia muito em minha infância: ” Faz as coisas como se fosse para inglês ver!”
Para irmos como convidados para a COP 15 e sermos tratados com respeito e dignidade não precisamos que se crie uma delegação chefiada por uma candidata à presidência da república, pois, até onde se sabe, nenhum país irá se fazer representar desta forma. Ainda mais quando a candidata em questão tem em sua história um pensamento totalmente contrário ao tema em discussão e, o que é pior, tem em seu currículo uma história de embates com os que defendem o meio ambiente e os animais e, o que é pior ainda, é a favor do atrasado pensamento econômico: “Derruba-se-arvore-abre-se-estrada-e-o-progresso-chega”.
O que precisamos enviar para a COP 15 é um ministro do meio ambiente consciente do seu papel, coerente com a causa que defende e que a música que embale este ministro faça parte da trilha sonora da verdade e da transparência, revelando, assim, a todos que o nosso país não terá uma participação aventureira, com discurso fácil, onde se joga luz no quintal do vizinho em uma tentativa de tirar de si o foco da responsabilidade de fazer. Que este ministro apresente, sim, propostas se comprometendo em diminuir a emissão de carbono na atmosfera. Que leve propostas decentes, sim, para que as gigantescas clareiras abertas na Amazônia tenham definitivamente o seu fim, mostrando ao mundo números concretos de desmatamento e, não, estimativas fomentadas por tecnocratas. Comprometendo-se claramente, sim, a extinguir definitivamente do vocabulário da nossa língua as expressões: ” Não desmatar demais!”, ” Não poluir demais!”, “Não degradar demais!” pelo simples fato de que desmatar, poluir e degradar são atos que não devem estar contidos no pensamento de uma sociedade que busca outras alternativas de evolução. E que, por fim, se apresente, sim, como ministro do meio ambiente de uma nação que não aceita, sob hipótese alguma, que se crie uma “delegação de cunho eleitoreiro” .
A COP 15 irá acontecer daqui a cerca de 20 dias, portanto ainda há tempo de termos uma participação digna e para isso basta ouvir atentamente o discurso de Hilary Benn, ministro de meio ambiente, alimentação e questões rurais do Reino Unido que afirma que o Brasil ainda tem a oportunidade de consolidar a sua reputação de potência ambiental e que, se quiser alcançar um mundo sustentável, precisará enfrentar esta responsabilidade por mudanças climáticas.
Então que seja assim, pois, caso contrário, iremos mais uma vez entrar para a história como um país que faz as coisas para inglês ver.
PAULO MAIA É JORNALISTA E AMBIENTALISTA.
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