“O pato, o mentiroso e o inesperado”
por paulo maia
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No início de setembro do ano passado, a SOS AVES E CIA recebeu da Petrobras/Reduc um quero-quero, ave símbolo do estado do Rio Grande do Sul e protegida por lei. A ave estava agonizando, encharcada em “produtos químicos”, pois caíra em uma das inúmeras canaletas que ficam abertas no entorno da empresa, verdadeira armadilha para os animais. Nesta mesma época, entre os inúmeros pedidos de socorro que atendemos, retiramos um pato da poluída Lagoa Rodrigo de Freitas.
O estado deplorável em que chegou o quero-quero não nos permitiu êxito, apesar de todo nosso esforço empreendido para reverter o quadro do animal petrolizado e salvá-lo. Para quem está chegando agora, animal petrolizado é a nomenclatura usada por técnicos da Petrobras quando o animal da fauna brasileira e protegido por lei é encontrado agonizando, todo coberto de produtos químicos e com poucas chances de sobrevivência.
O pato retirado da Lagoa, mesmo sem aparentar qualquer problema de saúde, apesar da degradação do local, passou por exames veterinários e foi levado para o nosso abrigo.
Na última sexta-feira, depois de inúmeros pedidos de reunião com a presidente da Petrobrás, fomos, finalmente, atendidos, não na Refinaria, onde o crime contra a fauna brasileira aconteceu, mas em uma sala fria, em um prédio na Cidade Nova e não pela presidente e, sim, pelo gerente geral da REDUC. Mostrando-se totalmente alheio aos fatos, o funcionário da estatal, orgulho do nosso povo e outrora segunda maior petrolífera do mundo e hoje, oitava, ao invés de reconhecer o nosso árduo trabalho, com dedo em riste, chamou o nosso médico veterinário de mentiroso, acusando-o de estar cometendo uma grande mentira deslavada. Isso tudo porque fora questionado se tinha conhecimento de que funcionários da Refinaria continuavam consultando a SOS AVES E CIA. sobre os danos causados à fauna e à flora brasileira. Diante de tão inadequada postura, a reunião foi terminada e o problema continua.
O pato? Está bem. Vive em paz no abrigo, respeita a todos e as regras de boa convivência. Foi aí que o que parece ser inesperado aconteceu. Na manhã do sábado seguinte, em visita ao abrigo, ele veio sorrateiramente em minha direção e, em forma de agradecimento pelo pouco que lhe fiz, bicava e acariciava minhas pernas.
Ah, em ambos os casos, há testemunhas!
Paulo Maia é ambientalista e presidente da Organização Não Governamental SOS AVES E CIA
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