por paulo maia
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Doze! Um apenas bastava, dois talvez, três quem sabe, para se certificar que não existe mais possibilidade de vida! Mas, não. Foram doze! Doze vezes para confirmar que quem lutava está morto. Morto de morte matada. Não fica dúvida. Doze tiros e acabou!
Pensa ele, o atirador que recebeu migalhas para terminar com a vida de um humilde lavrador, que, ao ceifá-la, o problema estaria resolvido. Ledo engano. Não se resolve um problema desta dimensão a bala.
Em um país de vastas terras, de dimensão continental, irremediavelmente a parte que sempre cabe a quem luta por sua divisão é uma pequena porção, uma cova, rasa por sinal.
Na gigantesca nação que dorme em berço esplêndido, os seus filhos que não fogem à luta são mortos porque querem simplesmente ter o direito de nela plantar e dela tirar seus frutos.
Quando o emblemático ambientalista Chico Mendes foi assassinado em 1988 e Lula era o então candidato à Presidência da República, nas eleições que batiam à nossa porta, o funeral levou três dias. As autoridades falaram. Falaram muito. Haja discurso! De lá para cá, quase nada mudou, pouca coisa foi feita e os campos continuam sendo irrigados com sangue de inocentes brasileiros. De trabalhadores brasileiros. De homens e mulheres que não fogem à luta e acreditam que a decência do tremular de uma bandeira lhe dará o que precisam: a posse da terra prometida! A posse da terra tão esperada! Enfim, a posse da terra amada!
A todo instante os jornais noticiam mais um crime e as autoridades, não raramente, informam que “uma rigorosa investigação irá acontecer, doa a quem doer”. Mas o que se vê depois são os pistoleiros e os mandantes dos crimes circulando pelas ruas em um afronto à sociedade.
Os conflitos por essas terras derrubam ao chão vítimas que, muitas das vezes, sequer sabem porque estão morrendo. Gente que vem de longe, como o caso da missionária norte americana Dorothy Stang que perdeu a vida para seis tiros disparados a queima roupa. Minutos antes de morrer, ela questionara o seu algoz porque ele a mataria.
No último domingo, sepultamos mais um inocente que, como milhões, queria ver a terra dividida, semeada, com seus frutos colhidos, seus filhos alimentados, dando, assim, dignidade às suas vidas.
Cícero Guedes, morto com o dobro de tiros que matou Dorothy Stang, era coordenador do MST, em Campos dos Goytacazes. O que a sociedade brasileira espera neste momento? O que esperamos todos nós, neste momento, é que as autoridades não apareçam com suas frases perfeitas e, sim, com um pensamento lógico, que é a definitiva reforma agrária deste pais. Terra para quem nela quer trabalhar e não para devassos que se estendem em largos braços, especulando-as financeiramente ou ocupando-as com os olhos da ganância.
Paulo Maia é ambientalista e presidente da ONG SOS AVES E CIA.
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